Fiquei surpreendido e, também, atónito com a notícia. Na realidade, estou abismado. Como é possível alguém dar um tiro noutro acidentalmente nestas circunstâncias? Um polícia atinge mortalmente um colega no abdómen quando efectuava procedimentos de segurança com arma de fogo?
Não consigo entender como pode isto acontecer a um profissional de polícia que lida com estas situações todos os dias. No entanto, já consigo ouvir-vos dizer: só acontece a quem lida diariamente com armas e é mais provável acontecer a um policial do que a um cidadão comum.
Não, não é bem assim. Lamento dizer-vos mas vocês estão errados. Não foi só um acidente, foi negligência. Porquê, perguntam vocês. Eu explico. Para quem não sabe, os procedimentos de segurança usados com arma de fogo são, basicamente, os seguintes:
Primeiro, ao pegar na arma nunca colocar o dedo no gatilho mas ao longo do guarda-mato, pois esta pode ter uma munição na câmara e não estar em segurança, ocorrendo um disparo por pressão do gatilho.
Segundo, verificar se a arma está em segurança, assim, mesmo que se prima o gatilho ela não dispara.
Terceiro, retirar o carregador, mas nunca pensar que não possa existir uma munição na câmara.
Quarto, puxar a corrediça duas vezes, eu disse duas vezes, para fazer sair uma possível munição da câmara.
Quinto, destravar a arma e realizar um disparo em seco, mas nunca na horizontal ou para baixo, sempre para cima.
Se se tivesse procedido desta forma nunca teria ocorrido um acidente deste tipo. E, não querendo parecer demasiado crítico nas minhas palavras para com o agente causador do disparo, afirmo que isto não devia ter acontecido.
Para que não haja dúvidas, cumpri serviço militar e desempenhei funções de oficial de tiro. Assisti a algumas situações insólitas acontecerem e, só por manifesta sorte, não sucederam mais “acidentes” em sessões de tiro de manutenção quer com militares quer com policiais de diferentes forças.
Fiz tiro de preparação de armamento (afinação, calibração, etc), de manutenção e de competição. Com munição de salva e real, de todos os calibres com variadíssimos tipos de armamento. Por tudo isto, considero-me uma pessoa avalizada e com experiência para falar deste assunto. Pode ser que esteja errado ou que haja algum factor que desconheça, mas, até prova em contrário, mantenho o que disse.
Lamento a morte do polícia, mas lamento mais a displicência deste “acidente”.