sábado, 30 de abril de 2011

A GALINHA DA VIZINHA…

chickenknitA galinha da vizinha é sempre melhor que a minha. Este é o provérbio que tem arrasado, ao longo dos anos, com este país. A razão subjacente a isto está na inveja que sentimos uns dos outros. E, sendo este povo a que pertenço tão católico, porque não entende que esse sentimento é negativo, mesquinho e inferior?

As dificuldades, as agruras e os sacrifícios sentidos no decurso da nossa história, não devem justificar o desejo de ter tudo aquilo que o outro tem. É evidente que devo aspirar a mais e que devo lutar por isso, mas nunca contra quem já o conseguiu. Se o meu vizinho tem uma galinha gorda e bonita, eu devo cuidar e alimentar a minha para que ela seja igual ou melhor do que a dele.

Mas, não. Ficamos eternamente a cobiçar a “galinha” dos outros. Ansiamos por possuí-la, nem que seja roubá-la. Desejamos, em pensamento, que algo aconteça ao seu “galinheiro” para poder ficar com as “aves”. Se for necessário, não hesitaremos em envenenar o dono, para poder ficar não com uma mas com todas. Ridículo, profundamente ridículo.

É esta a atitude que nos faz malandros, preguiçosos, interesseiros e trapaceiros. Não temos vontade própria para querer ser melhor do que o vizinho. Mas não interessa ser melhor para depois nos gabarmos disso. Temos sim que tentar superar de uma forma sã o que os outros fazem.

A tentativa de ultrapassar as proezas do “vizinho”, enriquece-nos como pessoas e estimula o outro a suplantar o que atingimos. Esta disputa acrescenta sabedoria e promove o acréscimo cultural da sociedade e não do indivíduo. Não podemos continuar a ser tão egoístas e a olhar só para dentro de nós próprios. Se assim continuarmos, seremos sempre socialmente pobres e culturalmente medíocres.

Vamos lá a dizer, duma forma sentida, que: “A galinha da vizinha é igual à minha”.

P.S. – Não matem a galinha só para não terem o trabalho de cuidar dela.

galinha_bomba

Imagem (daqui) e (daqui)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A SOLIDÃO MATA-NOS…

pessoa_idosa_sozinha

Estar sozinho não é o mesmo que estar só. Apesar de não sentir solidão, aprecio os momentos em que estou apenas eu e as coisas. É nessas alturas que damos valor à amizade, ao companheirismo e ao amor. Apreciamos melhor tudo porque, no fundo, sabemos que temos alguém.

Sentir solidão é sentir tristeza. Uma enorme tristeza interior. É querer ter alguém para trocar umas palavras, uns carinhos e não ter. A solidão traz o isolamento, o isolamento a indiferença, a indiferença a ausência e a ausência a depressão.

Embora a idade possa trazer solidão, acho que ela corresponde a um estado de espírito. Por isso, pode atingir o indivíduo em qualquer altura da sua vida. Quando olhamos, e é necessário ter essa capacidade, nos olhos de alguém só, conseguimos ver que a sua alma chora, o seu olhar é cinzento e a sua aura opaca.

Se não se tem ninguém ou se a companhia de outro não nos preenche, então a solidão mata-nos aos poucos. Ela vai-nos corroendo por dentro, destruindo-nos devagarinho. Vamos ficando vazios, sem conteúdo. Vão-se perdendo as memórias. Vai-se morrendo por dentro todos os dias.

Nas pessoas que sofrem de solidão, o tempo parou e a vida vai acabando. Já não há muito a fazer por ela. É esperar que ela acabe ou que alguém nos leve para um lugar onde possamos não estar sós.

Sinceramente, não desejo a ninguém que morra abandonado na sua própria casa e muito menos que seja encontrado meses ou anos depois, pois se isso lhe acontecer é sinal que o seu fim foi profundamente triste. Não há nada pior do que morrer só.

Portanto cuidado, muito cuidado, pois o egoísmo, a avareza, a inveja, a intriga e a maledicência trazem solidão. Em conclusão, matam-nos sem sentirmos.

solidão_idosos

Imagem (daqui) e (daqui)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

TER, MAS NÃO TER…

papa reformas

Toda a gente aspira a ter, mas será que de facto chegam a ter? Será que depois de possuírem um bem, ele é de facto seu? Mesmo depois da sua aquisição e passagem para nome próprio, o bem é seu efectivamente? Não serão todos os bens pertença do Estado e portanto sujeitos a impostos, contribuições ou taxas e, portanto, não estarão todos eles “arrendados” aos seus legítimos proprietários?

É sabido que, quem não tem automóvel deseja ter um. Escraviza-se pela vida fora só para conseguir uns tostões que cheguem para o comprar. Quando é chegado o momento, só se pensa na felicidade do carrito novo e esquece-se que se ficou com um tipo especial de “arrendamento” às costas para toda a vida. Os custos com as prestações, as manutenções periódicas, o combustível, os pneus, os seguros e com o imposto de circulação. Tudo “rendas” periódicas e cíclicas. E os possíveis encargos resultantes de multas, danos e acidentes na sua viatura e na dos outros?

Falemos, agora, da casa de habitação. Todo o indivíduo quer ter casa própria. Assim, ou trabalha arduamente para juntar umas massas e depois a constrói ou compra, ou então, adquire-a e paga-a duma só vez ou a vai pagando ao longo do tempo. Em ambas as formas estão implicados sacrifícios e abnegações. São os encargos com as prestações, os seguros, a manutenção, a água, a electricidade, o gás, o saneamento e o imposto municipal sobre imóveis (IMI). Mais “rendas” periódicas e cíclicas.

Agora coloquemos outra questão importante. Imaginemos que queremos ou temos que vender o automóvel ou a casa. Quando adquirimos o tão desejado carro novo, nem sequer percebemos que assim que saímos do stand, ele automaticamente desvalorizou. Durante o tempo em que esteve nas nossas mãos, ele continuou a perder valor comercial. E perdeu muito. Ao sabermos o seu valor no acto da venda ou troca, iremos constatar quanto desvalorizou. Mas, ainda assim, continuamos a aspirar por outro carrito ainda melhor.

E o valor da casa, quando a vendemos? Então lutámos tanto para a comprar ou construir e vamos vendê-la? A “verdade de La Palice” diz-nos que: “Só se vende um bem uma vez”. Portanto, há que vender bem. Até aqui, tudo corre sobre rodas. E o IMT (Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis, imposto a pagar após a venda? Estava a malta toda satisfeita com a transacção e a realização de capital e lá vai “voar” uma parte considerável dele.

Após o que vos disse, ainda pensam que ter é bom? Confesso que a nossa cultura me confunde. Só queremos ter e vivemos para ter tudo, mas na verdade nunca possuiremos nada inteira e unicamente nosso. Se calhar o fortíssimo sentimento de posse que temos resulta do facto de termos tão pouco e do sacrifício que fazemos para o ter.

Mas, mais vale contentarem-se com pouco e serem felizes. Pois, se calhar, feliz é aquele que nada tem, porque também não tem que pagar…

casa

Imagem (daqui) e (daqui)