É esta a escola que queremos para nós e para os nossos filhos? É este o modelo educativo que defendemos? Ou isto é muito pouco e andamos todos a empurrá-la com a barriga para o lado que mais nos apetece? Não será esta escola uma ilusão em vez de ser um edifício do saber?
Esta não é uma escola centrada no professor, mas sim nos alunos e nos encarregados de educação. O poder excessivo concedido a encarregados de educação e alunos, conferido pela legislação e pelas direções das escolas, tem minado significativamente a relação escola-professor, professor-encarregado de educação e professor-aluno.
O enfoque atual centra-se, claramente, no aluno. A legislação defende os seus direitos e protege-o dos seus deveres. Concentra-se em demasia naquilo que ele é e no que ele quer fazer. A educação virou um restaurante em que o aluno é o cliente e o professor um empregado de mesa, que procura “servi-lo” e “agradar-lhe”. Nos alunos, o respeito, a responsabilidade e o trabalho estão cada vez mais ausentes.
As escolas estão tornar-se, à força, em empresas, não o podendo nunca ser. Procuram, teimosamente, funcionar como tal, embora tenham poucos elementos em comum. Pretendem estruturar-se organizativamente como tal, mas esquecem-se que não conseguem e nem podem controlar a matéria-prima. Esta, em contexto escolar, não pode ser substituída quando tem pouca qualidade ou apresenta defeitos. Os alunos são a matéria-prima das “escolas-empresa” e é com eles que temos de trabalhar, não os podemos trocar por outros melhores.
Toda a filosofia diretiva e orientadora da escola atual se desviou daquilo que é verdadeiramente essencial – ensinar. A fórmula é simples: o professor ensina e o aluno aprende e estuda. O docente respeita, educa e orienta, o aluno respeita, é educado e escolhe o caminho. Não faz aquilo que quer e quando quer, faz o que lhe mandam e no momento em que lho mandam. Estamos todos a esquecer que deve ser o aluno a trabalhar e não podemos fazer recair toda a pressão, por via dos resultados, em cima dos professores. Onde pára a pressão sobre os alunos?
Neste modelo de escola, os professores não se sentem felizes, não estão nem são motivados e não são respeitados nem como indivíduos nem como profissionais. A desconfiança constante do trabalho docente, o controlo da sua competência pedagógica e científica, a grande pressão sobre a sua atividade para obter bons resultados e a exagerada carga burocrática e procedimental contribuem para um clima nas escolas nada propício ao sucesso.
A desautorização dos professores, a ausência de reconhecimento do mérito e o pouco agradecimento de iniciativas e atividades válidas estão, igualmente, entre alguns dos fatores de descontentamento da classe docente. Por vezes, parece que o conhecimento e a sabedoria acumulada ao longo de anos de nada serviu e tudo é questionado. A sensação de completa frustração é frequente.
Até os novos edifícios das escolas, pelas suas dimensões e número de espaços, apesar de proporcionarem boas condições, contribuem para a desumanização e a para redução da socialização dos profissionais que nelas trabalham. O conceito de sala dos professores está a desaparecer, e agora surgiu o paradigma do gabinete de trabalho. Ou seja: “O que interessa é pô-los a trabalhar...”.
Dantes o professor sentia-se bem na escola, agora nem quer ouvir falar dela.