Sempre me intrigou a teimosia do futebol em não querer alterar as regras do jogo. Serão os interesses económicos, financeiros e políticos envolvidos tão fortes que as instâncias máximas do futebol (FIFA e UEFA) não se dignem pensar em mudar as regras?
Quando se levanta este problema, imediatamente se fazem ouvir um chorrilho de vozes discordantes a usarem como argumento a descaracterização do jogo em si. Também é verdade que, sempre que ouço este tipo de comentário me questiono quais serão os verdadeiros interesses defendidos pelas pessoas em questão ou qual o seu grau de ignorância nestas matérias.
Como o meu único objetivo é o desporto como espetáculo, onde a concretização, leia-se número golos marcados, e a dinâmica das equipas devem ser os principais vetores, deixo-vos um conjunto de modificações profundas que considero primordiais para a evolução futebolística:
- Abolição do fora-de-jogo – esta regra criou imobilismo e estrangulamento tático nas equipas, levando inclusivamente à criação de um sistema específico (defesa em linha) para colocar em fora-do-jogo os jogadores. Esta medida transformará os sistemas táticos e fixos atuais, favorecendo a criatividade, a mobilidade e capacidade física;
- Diminuição do tempo de jogo – a duração atual é de 90 minutos e o tempo útil é aproximadamente 60. Desta forma, é imprescindível que a duração passe para os 60 ou 75 minutos de tempo útil. Não vale a pena continuar a desperdiçar tempo inútil;
- Desaparecimento dos tempos de compensação – a implementação do tempo útil vai implicar a cronometragem e quando o árbitro apita o tempo para, retomando-se a contagem quando ele assim o indicar. Evita-se o antijogo e os minutos perdidos em lesões ou substituições. Assim, deixam de ser necessários períodos de compensação nos finais de cada parte;
- Permitir a substituição de cinco jogadores – com a abolição do fora-de-jogo e adoção do tempo útil, os sistemas táticos ficam mais flexíveis e a mobilidade dos jogadores aumenta, logo o desgaste é maior. Facilita-se, também, o acesso ao jogo de mais jogadores;
- Implementação do segundo árbitro de campo – a passagem de um árbitro de campo para dois é absolutamente necessária. As dimensões do campo obrigam-no. Cada árbitro ficará com uma metade do recinto de jogo, alternando de posição regularmente. Os árbitros auxiliares deixam de fazer sentido. Passa a tornar-se imprescindível a existência de um juiz de mesa que controla o tempo e regista as ocorrências;
- Alterar as sanções disciplinares – a primeira sanção continua a ser o cartão amarelo, a segunda a expulsão temporária do jogo por cinco minutos, não sendo permitida a substituição desse jogador e a terceira será definitiva, com amostragem do cartão vermelho. Este último castigo implica sempre a suspensão por dois jogos a cumprir unicamente em encontros do campeonato;
- Adoção do livre direto sem barreira – o jogador que siga isolado e seja travado ou derrubado fora da área deverá beneficiar da marcação de um livre direto sem barreira no local da falta, com a correspondente exibição do cartão vermelho ao jogador infrator;
- Uso de imagens videogravadas – a utilização de imagens vídeo é fundamental para esclarecer todas as dúvidas surgidas durante o jogo. A pausa para visionamento deve ser contemplada em prol da verdade desportiva, funcionando, igualmente, como instrumento educativo e formativo.
Se, ao adotar estas medidas, os resultados no futebol passarem a ser mais expressivos não vejo que isso seja negativo ou prejudicial para os adeptos ou telespetadores, muito pelo contrário. O que eles desejam é ver um bom jogo e com golos. Sempre fiquei desiludido quando assisto a um jogo bem disputado entre duas boas equipas, mas que acaba sem golos. Por isto, o meu interesse pelo futebol tem diminuído drasticamente.
O futebol está estagnado no tempo e precisa de evoluir. Não é com medidas estúpidas tipo tornar a bola mais leve dificultando a ação do guarda-redes que vamos lá. Enquanto todas as modalidades têm alterado e melhorado as suas regras no sentido do maior espetáculo, no “desporto rei” assiste-se à contínua regressão e degradação.
Cada vez há menos dinheiro disponível para financiar as equipas, para a publicidade, para as transmissões televisivas, para as transferências, para as infraestruturas e para a manutenção dos estádios. E, também, há cada vez menos espetadores nos estádios. Haja coragem e mude-se este estado de coisas. Assumam-se ruturas com determinação.