quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A CRISE E A VONTADE DE TRABALHAR…

crise

A crise financeira e económica resulta de erros de gestão do capital e do trabalho. Deficiente planificação dos gestores públicos e privados, políticos ou não levou-nos a uma situação calamitosa que, na minha opinião, vai ser impossível de ultrapassar. As razões, que sustentam o meu raciocínio, são muito simples.

Primeira, o capital não está interessado no trabalho, embora dependa dele, despreza-o e explora-o. Nunca como agora as empresas se estão a aproveitar do momento para contratar pessoal qualificado ou não, pagando-lhes o mínimo salário possível. Exigem tudo e não pagam ao trabalhador o que é justo, as horas extraordinárias e dentro do prazo definido por lei. Não se preocupam em reorganizar, rentabilizar e potencializar recursos disponíveis. A produção máxima a custos reduzidos permitindo uma elevada faturação é o seu único objectivo.

Segunda, o setor financeiro investiu muito mais capital no estrangeiro do que cá. Logo, o dinheiro saiu muito mais do que entrou. O investimento em Portugal está condenado por causa das nossas leis e da sua aplicabilidade, da burocratização dos processos e da reduzidíssima celeridade da justiça. O despesismo do estado em obras públicas desnecessárias criou postos de trabalho precários e temporários, mas hipotecou as finanças para o resto das nossas vidas.

Terceira, o trabalho é que está a pagar a crise, ou seja, é ao rendimento do trabalho que se vai buscar receita em impostos ou contribuições para corrigir o esbanjamento do lado da despesa pública e privada. Sacrifica-se o contribuinte para obter receita imediata e não se combate a despesa do estado e das empresas.

Quarta, o endividamento das famílias é muito elevado quer por culpa própria, quer por irresponsabilidade, mais uma vez, do setor financeiro. A obsessão constante das instituições bancárias e seguradoras em apresentar lucros consecutivos influenciou e pressionou os particulares e as empresas a aderir a produtos que as suas contas correntes não podiam suportar.

Quinta, o uso da política para a promoção financeira e social atingiu níveis nunca vistos. Os políticos não servem a política, mas servem-se dela. O servir a causa pública é pura retórica. O compadrio, o tráfico de influências e a corrupção estão profundamente enraizados na nossa sociedade e nunca deixarão de existir. A promiscuidade entre o estado e as empresas atingiu limites impensáveis, onde a circulação bilateral sem pudor de pessoas e bens é escandalosa.

Sexta, os salários são baixos relativamente ao custo de vida, os aumentos salariais e as progressões nas carreiras estão congeladas e não se vislumbra quando deixarão de estar. Os impostos aumentaram e os benefícios fiscais e sociais diminuíram, o custo de vida aumenta, o desemprego não diminui, a economia não cresce.

Sétima, se não se imputa responsabilidade civil e criminal aos gestores pela contabilidade durante o período em que permanecem nos cargos, quem é que tem vontade de trabalhar? Porquê? Porque devemos ajudar a recuperar um país em que o povo muito pouco contribuiu para o seu estado actual? Para quê? Para entregar a gestão dos dinheiros públicos a indivíduos academicamente incapazes que só buscam a sua ascensão pessoal?

Oitava, os sacrifícios não são para todos, são mais para uns do que para outros. Não são para todos, porque o capital não está a contribuir com mais impostos para reduzir a crise como devia. Mais para uns do que para outros, porque uns são sobrecarregados com reduções salariais e perda de “metade” do subsídio de natal e outros não.

Em face disto tudo, quem é que tem motivação para trabalhar? E, por favor, não me venham com essa falácia de que temos que ajudar a recuperar o país. Quem assim fala, normalmente, pouco trabalha ou ganha acima da média. A crise já há muito tempo afetou a vontade de fazer mais, de melhorar. As pessoas só querem sobreviver ao trabalho e à sua vida, elas já não aspiram a mais nada. Não as martirizem mais, sacrifiquem-se “vocês”.

Vontade de trabalhar, onde andas tu? Procuro-te por todo o lado, mas não te encontro.

boa-vida

Imagem (daqui) e (daqui)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

AS FÉRIAS E AS CONTRADIÇÕES…

ferias

Contradição do descanso: após onze meses de trabalho ansiamos pelo descanso das férias, mas quando elas surgem não é repouso que usufruímos. Ocupamos o tempo a cuidar da casa, dos outros ou de assuntos pessoais e, no final das férias, apercebemo-nos que estamos mais cansados do que quando as começámos.

Contradição da poupança: durante o tempo ocupado com trabalho vamos reunindo mensalmente algumas economias que usamos nos custos de umas merecidas férias. Quando chega a altura todo aquele dinheiro é gasto bem ou mal, de forma proveitosa ou não. No essencial, trabalhamos a esmagadora maioria do nosso tempo de vida para depois o gastarmos num curto espaço de tempo.

Contradição do prazer: poucos podem afirmar que o trabalho lhes proporciona prazer. A maioria tem que o efectuar pelo dinheiro e de uma forma mecânica onde o prazer está praticamente ausente. Durante as férias não, tudo é feito com o máximo gozo. Será? Quantos destinam esse período para fazer obras em casa, cuidar dos jardins ou das hortas, arrumar arrecadações ou garagens? E aqueles que durante as ditas férias trabalham por necessidade? Nestes casos, onde está o prazer?

Contradição da felicidade: o trabalho dá felicidade, mas poucos são aqueles que o podem confirmar. É, mais fácil para nós, entender que essa alegria está relacionada com o dinheiro ganho do que com a alegria resultante daquilo que fazem. Mas, todos admitimos que somos mais felizes em férias. Então, por coerência, devemos aceitar que passamos quase toda a nossa vida infelizes para podermos usufruir de relativa felicidade em férias.

Contradição do imprevisto: regra geral, as pessoas não apreciam imprevistos, nem no trabalho nem nas férias. Estes alteram as rotinas, criam dificuldades e retardam a execução das tarefas. O pior de tudo é ter as férias planeadas há muito tempo, perfeitamente definidas e, por um qualquer imprevisto, não se vão poder gozar. A morte de um familiar, um acidente, uma avaria em casa ou no automóvel, por exemplo.

Contradição do tempo: muitos meses de trabalho e um mês de justas férias. Acertar períodos de descanso entre duas pessoas nem sempre é fácil. Quantas vezes marido e mulher não as tiram ao mesmo tempo pelas mais variadas razões? Nos casos de impossibilidade de gozo delas por inteiro, a sua repartição pode criar sérias dificuldades de coordenação e sobreposição com as dos amigos, dos parentes, dos companheiros ou dos filhos. A tarefa de fruir de férias sozinho não implica inconvenientes. Mas quantos são os que o podem fazer?

Contradição do clima: a estação de ócio encontra-se centrada nos meses de Julho e Agosto, mas preferencialmente neste último. O clima, por acção do próprio homem, está em constante mudança e as estações do ano algo alteradas. Imagine-se trabalhar durante todo ano e nas férias o clima pregar-nos “partidas”. O Sol que devia brilhar, esconde-se atrás das nuvens. As temperaturas máximas estão baixas e as mínimas gélidas. E os dias de férias chuvosos?

Na realidade há demasiadas contradições nas nossas férias, mas ainda não percebi por que razão sinto que quando as minhas acabam já estou a pensar nas próximas.

Férias_de_pobre

Imagens (daqui) e (daqui)