Toda a gente aspira a ter, mas será que de facto chegam a ter? Será que depois de possuírem um bem, ele é de facto seu? Mesmo depois da sua aquisição e passagem para nome próprio, o bem é seu efectivamente? Não serão todos os bens pertença do Estado e portanto sujeitos a impostos, contribuições ou taxas e, portanto, não estarão todos eles “arrendados” aos seus legítimos proprietários?
É sabido que, quem não tem automóvel deseja ter um. Escraviza-se pela vida fora só para conseguir uns tostões que cheguem para o comprar. Quando é chegado o momento, só se pensa na felicidade do carrito novo e esquece-se que se ficou com um tipo especial de “arrendamento” às costas para toda a vida. Os custos com as prestações, as manutenções periódicas, o combustível, os pneus, os seguros e com o imposto de circulação. Tudo “rendas” periódicas e cíclicas. E os possíveis encargos resultantes de multas, danos e acidentes na sua viatura e na dos outros?
Falemos, agora, da casa de habitação. Todo o indivíduo quer ter casa própria. Assim, ou trabalha arduamente para juntar umas massas e depois a constrói ou compra, ou então, adquire-a e paga-a duma só vez ou a vai pagando ao longo do tempo. Em ambas as formas estão implicados sacrifícios e abnegações. São os encargos com as prestações, os seguros, a manutenção, a água, a electricidade, o gás, o saneamento e o imposto municipal sobre imóveis (IMI). Mais “rendas” periódicas e cíclicas.
Agora coloquemos outra questão importante. Imaginemos que queremos ou temos que vender o automóvel ou a casa. Quando adquirimos o tão desejado carro novo, nem sequer percebemos que assim que saímos do stand, ele automaticamente desvalorizou. Durante o tempo em que esteve nas nossas mãos, ele continuou a perder valor comercial. E perdeu muito. Ao sabermos o seu valor no acto da venda ou troca, iremos constatar quanto desvalorizou. Mas, ainda assim, continuamos a aspirar por outro carrito ainda melhor.
E o valor da casa, quando a vendemos? Então lutámos tanto para a comprar ou construir e vamos vendê-la? A “verdade de La Palice” diz-nos que: “Só se vende um bem uma vez”. Portanto, há que vender bem. Até aqui, tudo corre sobre rodas. E o IMT (Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis, imposto a pagar após a venda? Estava a malta toda satisfeita com a transacção e a realização de capital e lá vai “voar” uma parte considerável dele.
Após o que vos disse, ainda pensam que ter é bom? Confesso que a nossa cultura me confunde. Só queremos ter e vivemos para ter tudo, mas na verdade nunca possuiremos nada inteira e unicamente nosso. Se calhar o fortíssimo sentimento de posse que temos resulta do facto de termos tão pouco e do sacrifício que fazemos para o ter.
Mas, mais vale contentarem-se com pouco e serem felizes. Pois, se calhar, feliz é aquele que nada tem, porque também não tem que pagar…
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