Nunca imaginei que os procedimentos que realizam as companhias de seguros nos acidentes de viação estivessem tão impessoalizados, tão manietados e tão cartelizados.
Só caí na realidade quando, por infortúnio meu, um outro condutor embateu na minha viatura e me vi a braços com um processo de sinistro automóvel. Foram precisos passar 31 anos desde que tirei a minha carta de condução para tal me acontecer.
O meu primeiro choque surgiu no momento em que foi preciso prestar declarações por escrito aos agentes de autoridade, logo após o ocorrido. Ninguém imagina, só passando por elas, o quanto é complicado descrever um acidente quando ainda se está emocionalmente alterado.
Mas, meus amigos, não tenham dúvidas que é nessa tarefa que tudo se joga e se decide. É necessário ter muito cuidado com aquilo que se regista, pois é com este procedimento que a mafia se inicia. Elas vão usar meticulosamente o que foi escrito em seu proveito. Nenhuma seguradora vai querer assumir nada ou pagar um único cêntimo. Todas empurram para os segurados a exclusiva responsabilidade, evitando indemnizações.
As seguradoras exigem-nos os pagamentos das apólices dentro dos prazos, no entanto, em situação de sinistros fazem de tudo para atrasar, dificultar, aldrabar e fugir às suas responsabilidades.
Então como funcionam? Estabelecem, leia-se, cartelizam entre si quais as ocorrências, por sinal as mais frequentes, que definirão sempre a culpabilidade do detentor do seguro. Eu concretizo. Uma mudança de direção ou uma inversão de marcha por exemplo, mesmo que efetuadas com todas as precauções, sobrepõem-se sempre ao excesso de velocidade e atribuem imediatamente a totalidade da responsabilidade.
Consideram, por que lhes interessa, as companhias de seguro que as ditas manobras perigosas (que por sinal não vi escrito na lei a sua tipificação) caraterizam comportamentos que implicam responsabilidade máxima nos sinistros. A única coisa que importa é não assumir qualquer culpa, logo não indemnizar ninguém.
O meu segundo choque resultou das respostas estandardizadas, infundamentadas e falsas às reclamações que realizei. Notem que, qualquer que seja o protesto escrito legítimo que façam ele nunca terá uma contra-argumentação válida, por mais bem fundamentado que esteja. As seguradoras irão ignorar tudo o que disserem, mesmo que seja a mais pura das verdades.
Ah, já me esquecia. O gestor do processo é um indivíduo qualquer que, à frente de um computador, emitirá uma resposta sobre a responsabilidade da companhia sem analisar todos os dados objetivos que dispõe. Ou estavam à espera que o funcionário da seguradora atribuísse a responsabilidade à companhia para quem trabalha? Não sejam inocentes.
Eu rogo-me ao direito de questionar, para que servem os seguros automóveis que pagamos dentro dos prazos? Se as seguradoras só se preocupam em não pagar, por que liquidamos as nossas apólices? Se 30% dos condutores não têm seguro automóvel e ele é obrigatório, não andaremos nós a pagar para aqueles que o não tem?
No caso de acidente, quem nos defenderá? Ninguém o vai fazer. As companhias tentam livrar-se das culpas, usam e abusam da demora na resolução do sinistro e como o recurso aos tribunais implica muito tempo de espera e dinheiro, elas usam isso a seu favor. Entretanto estão sem carro ou com uma viatura de aluguer que provavelmente terão de pagar.
De facto, as seguradoras não servem de nada pois serão sempre os seus clientes a pagar os seus danos e os de terceiros, se os houver. A única coisa que as preocupa é que paguemos as nossas apólices, o resto é indiferente. Esperem até ter um acidente e verão. Desejo sinceramente que isso não vos aconteça, pois não sabem o que vos espera.
Na parte que me toca, continuarei a lutar pelos meus direitos e não será nenhum cartel de seguros que me calará ou abaterá. Da vossa parte, ponham-se finos e não pensem que nunca vos acontecerá a vocês.
Imagens (daqui) e pessoal