Mal seria se eu como professor, não acabasse por escrever sobre vida para além da escola. Porque já está na altura de ouvirem, de viva voz, a verdade, pelo menos a minha.
Como há muito tempo venho dizendo, cada um só deve falar daquilo que sabe e não andar a dar palpites sobre o pouco ou nada que sabe ou pensa saber. Chega de dizer asneiras, pois já não há pachorra para tanta alarvidade.
Se calhar os meus caros leitores não sabem, mas os professores têm vida pessoal e familiar. No entanto, devido a inúmeras pressões externas junto da tutela tudo se alterou em pouco tempo. O estado resolveu “dar” trabalho burocrático aos professores e isto retirou-lhes tempo para pensarem e prepararam as suas aulas. Ainda não perceberam que é isto que realmente interessa?
Pois é, os professores responsáveis precisam de tempo para pensarem e prepararem as suas aulas e esse trabalho ocupa-os em horário extra-aula, ao fim do dia ou durante os fins-de-semana, sem remuneração suplementar. Gostava imenso de ver muitos daqueles que falam demais na minha situação. A corrigir testes, a pesquisar materiais ou a preparar aulas em muitos dos fins-de-semana, isso é que eu gostava.
E que fique claro que não estou para aqui a arranjar desculpas, isto passa-se efectivamente assim quando se é competente e responsável. Pois dos outros, há-os em todas as profissões, até na dos linguarudos. Eu, de facto, só queria ter mais vida própria, ter um emprego das nove às cinco, como muitos.
Toda a gente estupidamente pensa ou diz que os professores não fazem nada e ainda por cima, têm muitas férias. Eu repudio veementemente esta afirmação que só pode vir de gentalha ignorante e mal intencionada. Como os membros da família dos alunos trabalham, a escola é que tem a “obrigação” de cuidar deles durante o dia, isto é o que se ouve à boca cheia dizer por aqueles que ignoram e são maledicentes.
Para estes, a escola não é mais do que um depositário dos filhos, pois ela tem o dever de tomar conta deles enquanto trabalham. De manhã, deixam os filhos na escola como “peças em barro bruto” e no final do dia querem levar para casa uma “peça moldada, cozida e pintada”. Mas, no dia seguinte entregam-nos outra vez uma “peça em barro bruto”. A cena repete-se diariamente.
Cada vez os pais estão mais exigentes e reivindicativos, mas cumprirem a sua obrigação de educar os filhos, muito poucos o fazem. Não se esqueçam que a educação começa em casa e que a educação dos filhos é o reflexo da sua própria.
Educar seria muito mais gratificante, estimulante e facilitado se todos cumprissem o seu papel. Educar os filhos dos outros está cada vez mais difícil, porque a quem o compete, não o está a fazer.
Sinto que tenho cada vez menos vida própria, porque passo tempo a mais ao serviço da escola…
Imagem (daqui)