quinta-feira, 29 de abril de 2010

Vida para além da escola…

viver-a-vidaMal seria se eu como professor, não acabasse por escrever sobre vida para além da escola. Porque já está na altura de ouvirem, de viva voz, a verdade, pelo menos a minha.

Como há muito tempo venho dizendo, cada um só deve falar daquilo que sabe e não andar a dar palpites sobre o pouco ou nada que sabe ou pensa saber. Chega de dizer asneiras, pois já não há pachorra para tanta alarvidade.

Se calhar os meus caros leitores não sabem, mas os professores têm vida pessoal e familiar. No entanto, devido a inúmeras pressões externas junto da tutela tudo se alterou em pouco tempo. O estado resolveu “dar” trabalho burocrático aos professores e isto retirou-lhes tempo para pensarem e prepararam as suas aulas. Ainda não perceberam que é isto que realmente interessa?

Pois é, os professores responsáveis precisam de tempo para pensarem e prepararem as suas aulas e esse trabalho ocupa-os em horário extra-aula, ao fim do dia ou durante os fins-de-semana, sem remuneração suplementar. Gostava imenso de ver muitos daqueles que falam demais na minha situação. A corrigir testes, a pesquisar materiais ou a preparar aulas em muitos dos fins-de-semana, isso é que eu gostava.

E que fique claro que não estou para aqui a arranjar desculpas, isto passa-se efectivamente assim quando se é competente e responsável. Pois dos outros, há-os em todas as profissões, até na dos linguarudos. Eu, de facto, só queria ter mais vida própria, ter um emprego das nove às cinco, como muitos.

Toda a gente estupidamente pensa ou diz que os professores não fazem nada e ainda por cima, têm muitas férias. Eu repudio veementemente esta afirmação que só pode vir de gentalha ignorante e mal intencionada. Como os membros da família dos alunos trabalham, a escola é que tem a “obrigação” de cuidar deles durante o dia, isto é o que se ouve à boca cheia dizer por aqueles que ignoram e são maledicentes.

Para estes, a escola não é mais do que um depositário dos filhos, pois ela tem o dever de tomar conta deles enquanto trabalham. De manhã, deixam os filhos na escola como “peças em barro bruto” e no final do dia querem levar para casa uma “peça moldada, cozida e pintada”. Mas, no dia seguinte entregam-nos outra vez uma “peça em barro bruto”. A cena repete-se diariamente.

Cada vez os pais estão mais exigentes e reivindicativos, mas cumprirem a sua obrigação de educar os filhos, muito poucos o fazem. Não se esqueçam que a educação começa em casa e que a educação dos filhos é o reflexo da sua própria.

Educar seria muito mais gratificante, estimulante e facilitado se todos cumprissem o seu papel. Educar os filhos dos outros está cada vez mais difícil, porque a quem o compete, não o está a fazer.

Sinto que tenho cada vez menos vida própria, porque passo tempo a mais ao serviço da escola…

Imagem (daqui)

6 comentários:

  1. como pai e não professor, concordo plenamente.

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  2. Anabela Soares Silva29 de abril de 2010 às 22:32

    Exemplo do que escreves é o facto de serem 22:30 e eu estar agora a fazer uma pausa da correcção dos testes de uma turma do 10º. Vou continuar a corrigir por mais uma hora ou hora e meia, porque depois o corpo pede descanso e caminha! Ser professor é uma profissão inspiradora, sem dúvida, mas desgastante e mal recompensada (não só em termos remuneratórios, mas em valorização).

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  3. Mas...
    Há um dia em que tu tens que parar e decidir ter vida para além da Escola, porque tal como eu tens uma filha!
    Esse dia pode chegar quando entras nas urgências de um Hospital e te diagnosticam um cancro; quando tens um acidente a caminho da Escola porque não descansaste o suficiente...
    Não estou para isto, tenho vida para além da Escola e a Escola pode esperar, a minha vida é muita curta!

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  4. Concordo contigo em algumas coisas, como por ex a educação dos filhos. Quanto ás condiçoes laborais, é assim, não estás satisfeito, procura outro patrão que te dê essas condições e despede-te. É assim que eu tenho feito, vou á luta por melhor.Eu sei do que falo, não estou a dar palpites. Há muitos professores desempregados, que tb estudaram anos, que por ex por metade do que ganhas, a viverem tão perto da escola como por ex tu, trabalhariam essas mesmas horas sem reclamarem. Tens um trabalho certo, com vencimento certinho ao dia 22 de cada mes, mas que te dá umas dores de cabeça...E?...o meu tb dá dores de cabeça, volta e meia tenho de ouvir uns "berros" do patrão e daqui a um ano, com esta crise, não sei se tenho trabalho...mas tu tens de certeza...Agora vá, vai lá corrigir uns testes...

    Abraço, Pedro

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  5. Eu gostava de ter um emprego com horário fixo...
    Trabalhava lá, tinha um gabinete para estar as horas em que não estou a dar aulas e até gostava de ser controlado por um livro de ponto electrónico. Apesar de já ser controlado de 45 em 45 minutos!!!
    Mas, como esta a dizer, adorava poder estar as 35 horas semanais na Escola, trabalhar com os computadores da Escola, e não trazer nenhum trabalho para casa!
    Porque será que o Ministério não nos dá isso?

    Abraços,
    Joaquim Pinto

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  6. "Eu gostava de ter um emprego com horário fixo..."

    Pois, amigo Joaquim, se é isso que gostava, despessa-se e procure outro trabalho onde tenha esse horário, no privado, e são 40 horas e não 35, mais umas 4/5 por semana para assuntos urgentes.

    Mas concerteza não o vai fazer...é mais fácil ter a nota no dia 22 de cada mês do que ir á luta por melhor...gostava de vos ver cá fora...

    Respeito os professores e sei que todos os trabalhos têm as suas dificuldades e ser professor não é excepção, mas por favor, os srs têm um trabalho certinho para toda a vida...

    Claro que devem lutar por melhores condições, todos devemos, mas não se queiram intitular de mártires ou coitadinhos.

    Como já disse atrás, e na esperança que entendam a minha mensagem, há milhares de professores que tb estudaram anos, que por metade do que muitos professores ganham, trabalhariam essas 35 horas na escola mais 20 em casa, a passarem pelos mesmos problemas que vôces passam, mas contentes por terem um trabalho certo e poderem seguir com a vida deles.

    Tenham bom senso e não se queixem tanto...

    Abraço, Pedro

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